O Telefone Preto 2 expõe a dificuldade de manter a qualidade em sequências

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Continuação do sucesso de 2022 deixa a desejar ao tentar explorar outro formato do terror

Em outubro, estreou nos cinemas brasileiros “O Telefone Preto 2”, sequência do sucesso de 2022 baseado no conto homônimo de Joe Hill. Para entender o novo capítulo, é importante resgatar alguns pontos do primeiro filme — especialmente porque eles exploram estilos de terror diferentes.

O longa original apresenta a história de um sequestrador e assassino de adolescentes, um homem que engana e captura crianças nas ruas, levando-as ao porão de sua casa em uma van preta. Após mantê-las presas, ele oferece uma falsa “chance” de fuga apenas para caçá-las e matá-las.

Apesar dos elementos sobrenaturais — como o telefone preto, que recebe ligações de vítimas mortas ajudando o protagonista Finney (Mason Thames), e as visões mediúnicas de sua irmã Gwen (Madeleine McGraw) —, a essência do primeiro filme está no terror realista. O sequestrador é humano, e o suspense é construído em torno da tensão psicológica e do medo palpável.

A direção de Scott Derrickson acerta ao equilibrar o horror sobrenatural com o suspense físico, entregando cenas intensas, como a tentativa de fuga de Finney, que encara o sequestrador adormecido, mascarado e aterrorizante — um dos momentos mais tensos do gênero nos últimos anos.


Uma sequência com foco diferente

Já na continuação, lançada em 2025, o enredo muda de direção. Como “The Grabber”, o sequestrador morre no primeiro filme, e o foco agora recai sobre Gwen, cuja mediunidade se intensifica. Ela começa a ter sonhos com a mãe falecida e, junto de outros jovens, parte para um acampamento em busca de respostas sobre os fenômenos.

A inclusão da figura da mãe, pouco explorada anteriormente, é um dos pontos positivos da trama. Entretanto, o retorno do “Sequestrador” em forma sobrenatural, preso em um limbo entre o inferno e o purgatório é pouco convincente. O roteiro, embora simples e fácil de acompanhar, apresenta cenas mal desenvolvidas, explicações superficiais e conflitos mal resolvidos.

As interações entre Gwen e o espírito de “The Grabber” carecem de coerência, já que a jovem enfrenta uma entidade muito mais poderosa que ela. Além disso, personagens secundários são introduzidos sem função narrativa relevante, e o forte tom religioso acaba diluindo o terror, tornando o filme menos impactante.


Um terror que perdeu a força

“O Telefone Preto 2” chegou cercado de expectativa, especialmente entre os fãs do original. No entanto, o resultado decepciona: o roteiro é irregular, a construção das cenas é falha e o suspense perde intensidade à medida que o filme avança.

Como acontece com muitas sequências de sucesso, faltou à produção um roteiro sólido e uma visão clara do que tornava o primeiro longa tão marcante. O resultado é um terror genérico, que entrega pouco diante do que o público esperava.

“O Telefone Preto 2” confirma que manter a qualidade de um sucesso original é um desafio — e que nem sempre o retorno ao medo é garantia de bons sustos.

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