Black Pantera dá aula de história no Best Of Blues And Rock e prova que é uma das maiores bandas do país

Foto: Laner Siqueira 

 Grupo levou ao palco seu DNA antirracista e, sem críticas, viu um público fiel à sua mensagem

Que o Black Pantera tem despontado cada vez mais como uma das maiores bandas da atualidade no Brasil, isso ninguém tem dúvidas. E isso se justifica não só pelos álbuns conceituais e pesados do grupo mineiro, mas também por suas performances ao vivo.

Referência aos Panteras Negras, organização política revolucionária norte-americana fundada em 1966 por Huey Newton e Bobby Seale, o nome da banda já diz tudo sobre a luta por igualdade racial que o trio leva aos fãs de rock por meio da música. Negros do interior de Minas Gerais, os irmãos Chaene da Gama (vocal e baixo) e Charles Gama (vocal e guitarra), juntos a Rodrigo Pancho (bateria), trouxeram ao show não apenas suas histórias de vida, mas também as dificuldades sociais e raciais.

"Somos vela que incendeia a casa grande, preta e retinta pele, luz que ofusca os ignorantes... o Brasil nunca foi para iniciantes". Foi com essa porrada que o Black Pantera deu as caras no Festival Best of Blues and Rock na noite deste sábado (14). E assim seria a próxima hora na frente do Auditório Oscar Niemeyer, com muitas mensagens antirracistas e consciência de classe. Uma verdadeira aula de história.

A ancestralidade humana foi pauta do trio para mostrar que todos já fomos pretos um dia. "Não se esqueça jamais, toda força vem dos ancestrais, e eu te pergunto aê, o que seria do mundo sem a Cultura Preta?", lembram em "Perpétuo", canção que dá nome ao último álbum, lançado em 2024. O recado é claro, sem nenhum receio, até porque estão certos, e negar é pura ignorância.

Entretanto, em um momento tão polarizado, aonde pessoas vão embora de shows após mensagens políticas de músicos, como aconteceu recentemente em uma apresentação do Ira!, não seria surpresa reclamações por parte de um ou de outro. Felizmente, isso não aconteceu, ou os contrários optaram por não se manifestar.

Tal feito também se deve ao público fiel que o Black Pantera já demonstra ter, mesmo aparecendo apenas recentemente em grandes festivais. São 11 anos de estrada e quatro álbuns de estúdio, porém, com fãs afinados e presentes nos momentos que marcam e dão ainda mais um toque de rock n' roll à apresentação.

"Fogo nos racistas" e "Fudeu" representam bem essa sintonia entre palco e pista. Na primeira, quando todos abaixam para o refrão final antes do mosh, aonde o nome da música é a ordem a ser seguida. Na segunda, a inclusão feminina ganha destaque com uma roda de bate-cabeça apenas para mulheres, que participam do momento, tão comumente dominado por homens em shows de rock.

Todos esses quesitos fazem do Black Pantera uma das maiores bandas de rock do Brasil na atualidade. Tudo que o estilo sempre pregou é possível encontrar no trio: atitude, inclusão, contexto social e racial, quebra do status quo e dedicatórias que trazem um lado mais sentimental, como "TRADUÇÃO".

A canção trouxe um clima mais calmo para o Parque Ibirapuera em se tratando de rifs mais leves. Entretanto, força todos a refletirem sobre as dificuldades enfrentadas por quem cresce na pobreza estrutural do país. "Minha mãe tem hora pra chegar, mas não tem hora pra sair. Mesmo sem força, sai pra trabalhar", certamente traduz não só vida da mãe dos frontmans.

O setlist do show foi carregado de outros hits do Black Pantera que abordam a pauta antirracista, como "Padrão é o Caralho", "Revolução é o caos" e "Boto pra fuder", que colocou ponto final na apresentação com mais um recado do que o grupo tem feito nos palcos e na cena brasileira.

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