'Até a última gota' discute temas atuais e urgentes, mas produção e atuações deixam a desejar

Divulgação/Reprodução 






 Filme está no TOP 10 da Neflix e desde sua estreia vem conquistando o público em todo o mundo

O filme “Até a última gota” entrou para a lista de acertos e daqueles que se tornaram sucessos mundiais em pouquíssimo tempo emplacados pela Netflix. Com isso, o streaming segue se consolidando cada vez mais como, além de plataforma, uma das grandes produtoras.

Estrelado pela brilhante Taraji P. Henson (Estrelas Além do Tempo, Empire – Fama e Poder e A Cor Purpura), “Até a última gota” traz para o debate os limites do ser humano em fazer o necessário para salvar a vida daqueles que amam. Essa abordagem acontece com a exposição e o enfrentamento de, entre outras coisas, ambiente hostil e péssimas condições de trabalho, assédio moral, falta de moradia digna, violência institucional e, principalmente, do sistema de saúde norte-americano, caro e inacessível para grande parte da população, especialmente trabalhadores cada vez mais precarizados no país.

No filme, Janiyah, interpretada por Taraji, se encontra num beco sem saída quando é ameaçada de despejo do pequeno quarto que mora com sua filha pequena, em um bairro periférico. Para o que já parecia um grande problema por si só, ela ainda enfrenta forte assédio e violência no ambiente de trabalho. Seu contexto social é ainda mais agravado com seus dois empregos, dos quais não suficientes para suprir suas necessidades básicas, que envolve criar sozinha a filha de 8 anos que luta contra uma grave doença.

Após passar por situações adversas para conseguir seu pagamento da semana, ela presencia um assalto e é acusada, injustamente, pelo seu chefe de envolvimento no crime. Cansada de ser tratada com tanto desprezo e agressividade, Janiyah toma uma atitude drástica para conseguir o dinheiro, que, como ela mesmo menciona por diversas vezes durante o longa, seria “apenas para comprar a comida e remédios da filha”.

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As violências institucionais seguem em sua vida de várias maneiras. Depois de sofrer uma abordagem policial violenta e ser ameaçada de morte pelo susposto “agente da lei”, Janiyah chega ao limite quando, em uma agência bancária, decide que não sairá sem seu pagamento, colocando a vida de clientes e funcionários em risco. A situação logo se transforma em um grande “mal-entendido”, que envolve desde de autoridades locais até o FBI.

O elenco, majoritariamente formado por atores pretos e pardos, escancara a situação de trabalhadores da população negra. O racismo e violência institucionalizados, inclusive na corporação policial, são evidenciados a todo momento. Além disso, é exposto o despreparo de agentes federais do FBI, que não demonstram qualquer preparo profissional e psicológico para entender e resolver a situação de forma pacifica, insistindo diversas vezes em invadir o banco e, se necessário, neutralizar a “criminosa”.

Do outro lado, a policial estadual Kay Raymond (Teyana Taylor) assume o papel da agente que compreende a situação e se coloca ao lado de Janiyah junto com a gerente bancária. Elas enxergam ali uma mãe desesperada e não uma criminosa violenta - esse detalhe é de suma importância, enquanto duas mulheres negras e que vieram de realidades semelhantes à de Janiyah, pretendem ajudar. Enquanto isso, os agentes do FBI, brancos e, possivelmente, que nunca passaram por tais dificuldades, entendem que a única forma é neutralizar a “criminosa.

Com um bom roteiro, a produção nos chama a atenção para problemas reais jogando luz a debates necessários, mas deixa a desejar em atuações, que, exceto pela personagem principal que entrega com brilhantismo as dores e desespero de uma mãe sem saída, estão bem abaixo da protagonista, inclusive da policial Raymond, que tem um dos papeis mais importantes. Isso faz com que o filme perca um pouco da sua qualidade técnica e se torne muito mais um grito de protesto contra desigualdade e racismo.

“Até a última gota” está disponível na Netflix e, há duas semanas, ocupa o Top10 da plataforma, inclusive mantendo o primeiro lugar desde a semana passada no Brasil. É um filme forte e chocante, que traz ao debate problemas reais de mães solos e da situação da população negra dos EUA, mas que pode ser usado para relatar a situação de diversos países, inclusive do Brasil.

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