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Foto: Marcos Hermes |
Artista contou sua trajetória em 3 noites e deu show de irreverência e simpatia para os cerca de 150 mil fãs
Paul McCartney é um artista de tamanho imensurável na história do rock, até porque, boa parte dela é contada paralelamente à sua carreira musical, se cruzando em diversos momento, inclusive, através das milhares de bandas e outros artistas influenciados pelo ex-Beatle. Isso já faz dele um dos maiores de todos os tempos, mas as apresentações da turnê Got Back têm deixado todos sem palavras para o que de fato é Paul McCartney em cima e fora dos palcos.
Em São Paulo, foram 3 noites arrastando uma multidão de 150 mil fãs de todas as idades, desde os mais velhos que viram os Beatles surgir, virarem sucesso mundial e acabar, até os mais novos que não conseguem ainda mensurar o espaço de tempo existente entre o fim do grupo de Liverpool, em 1970, e o próprio nascimento décadas depois. No Allianz Parque era possível ver crianças com menos de 10 anos de idade por todos os lados.
Paul McCartney sabe o tamanho que tem, sabe da importância e do quão relevante é na vida dos que ali estão para vê-lo, mesmo que pelo telão. Sem barreiras, Paul acolhe a todos, desde a chegada ao estádio ao acenar para os fãs de dentro do carro com os vidros abaixados até o momento da despedida ao final do show, quando sozinho no palco, solta um "see you next time". Acontece que ele não precisa e nem tem essas obrigações, e todos sabemos disso. O eterno garoto de Liverpool poderia muito bem apenas subir ao palco, se apresentar e ir embora que todos estariam satisfeitos. Mas Paul vai além.
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Foto: Marcos Hermes |
Comumente usada no futebol, a expressão "só não fez chover", é destinada a alguém responsável por um feito grandioso, que surpreendeu e encantou a todos de forma brilhante, sendo incapaz apenas de fazer chover. Mas, não cabe designá-la a Paul McCartney, já que ele literalmente fez chover em São Paulo. Lembrado por muitas vezes dizer que não haveria chuva no horário de seus shows no País, desta vez Paul não se manifestou, talvez já sabendo que sua grandiosidade passaria por cima até mesmo de São Pedro.
A última noite na capital paulista foi acompanhada de chuva em praticamente toda a apresentação. Assim como na quinta-feira (7), Paul abriu os trabalhos em alto e bom som com "Can't By Me Love", dos Beatles, seguida de "Junior's Farm", dos Wings. A chuva veio logo na sequência, em "Letting Go", mais uma dos Wings, em meio à procura do público pelo trio de metais Hot City Horns Paul Burton (trombone); Kenji Fenton (saxophone) e Mike Davis (trompete), localizado nas cadeiras do Allianz Parque. Se a noite parecia semelhante à de dois dias atrás, não estava mais, até porque "Drive My Car" entrou no set no lugar de "She’s A Woman".
Com um início de show carregado de energia impulsionada ainda mais pela chuva, Paul logo tratou de levantar ainda mais o público com o já esperado "Boa noite, mano". Sem medo e totalmente solto com outro idioma, o dono da noite gastou seu português para passar alguns recados ao público e explicar a história de alguns de seus clássicos, como em "My Valentine", dedicada à esposa Nancy Shevell.
Os dialetos paulistanos seguiram no vocabulário do britânico com "bora, galera" e "vocês são daora", o que, assim como nos concertos passados, transformaram palco, pista e arquibancadas em uma coisa só. Um espécie de festa onde todos tinham proximidade com o protagonista principal. Entretanto, outra frase surpreendeu e arrancou sorrisos e aplausos dos 50 mil presentes: "O pai tá on". Toda irreverência, simpatia e grandiosidade de Paul nesta turnê pôde ficaram ainda mais evidentes neste momento, onde o artista, com apenas 4 dizeres, demonstrou saber exatamente seu tamanho e reforçou a boa relação que tem com o público brasileiro.
Para passear ainda mais na história dos "Beatles", Paul lembrou, antes de "In Spite Of All The Danger", que a canção foi a primeira a ser gravada pelo grupo. Em 1958, o grupo de amigos de escola entraram em um estúdio para gravar a canção quando ainda carregavam o nome The Quarrymen, que, consequentemente, deu origem ao histórico grupo de Liverpool.
O show seguiu em grande ritmo de festa com os rits dançantes como "Love Me Do", "Dance Tonight", "Lady Madonna", "Ob-La-Di, Ob-La-Da" e "Band on the Run", sem que o público deixasse desanimar por causa da chuva. Os momentos mais intimistas - não que Paul precisasse ainda mais de intimidade com o público - também tiveram espaço em "Blackbird", "Let It Be" e "Hey Jude", por exemplo. Está última com um final à capela conduzido pelo eterno Beatle que tinha cada fã na palma de sua mão ao orientar os cânticos de "Na Na Na Na Hey Jude".
E as homenagens não poderiam ficar de fora. As principais e mais emocionantes foram aos ex-companheiros de Beatles de Paul McCartney, George Harrison e John Lennon. Harrison, morto em 2001, foi lembrado na música "Something" com diversas imagens suas no telão ao lado de Paul. Já Lennon, assassinado em 1980, teve dedicatória em "I've Got a Feeling", onde, graças ao uso da tecnologia, um dueto com McCartney é realizado. Ambas as canções levaram o público a uma viagem no tempo, recontando a história do quarteto responsável por fazer a Abbey Road a via mais famosa do mundo.
Com um bis recheado apenas de Beatles e com o peso de "Helter Skelter" que colocou todos para pular, Paul fechou mais uma noite cheia de história, ou melhor, com 50 mil histórias a serem contadas, ao som de "The End". Sozinho no palco, o showman se despediu dizendo "nos vemos na próxima vez" em inglês. Resta saber se essa história terá novos capítulos nos próximos anos ou se terá sido o início do fim de uma era, já que é grande a probabilidade do artista se aposentar dos palcos.
Mas essas incógnitas deixamos para a história. Ou melhor, para Paul McCartney.
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