Instituto Moreira Salles realiza exposição com obras de artistas contemplados com bolsa de fomento à produção

Detalhe de Vênus, de Val Souza. 2022. Coleção de Fotografia Contemporânea / Acervo IMS 

Com obras inéditas, 'Entre nós: dez anos de Bolsa ZUM/IMS' abre dia 1° de abril

O Instituto Moreira Salles realiza, a partir de 1º de abril, a exposição "Entre nós: dez anos de Bolsa ZUM/IMS". A mostra conta obras de artistas e coletivos contemplados pela bolsa de fomento à produção contemporânea na última década: Aleta Valente, Aline Motta, Bárbara Wagner, Castiel Vitorino, Coletivo Garapa, Coletivo Trëma, Dias & Riedweg, Dora Longo Bahia, Eustáquio Neves, Glicéria Tupinambá, Helena Martins-Costa, Igi Ayedun, João Castilho, Letícia Ramos, Rafael Bqueer, Sofia Borges, Tatewaki Nio, Tiago Sant'Ana, Val Souza e Vijai Maia Patchineelam.

O projeto, que terá parceria inédita com o Pivô - associação cultural sem fins lucrativos com sede no Copan, em São Paulo, contará com obras da coleção do IMS e que serão expostas juntas pela primeira vez.

Serão apresentadas no primeiro andar do Pivô cerca de 250 obras, entre fotografias, vídeos, instalações e outros suportes, que partem de histórias e questões pessoais para abordar temas maiores da representação visual, social e política do país.

Estão presentes na exposição assuntos como a história da escravização e o racismo, os fluxos migratórios, a cultura popular, a espiritualidade ancestral e os desafios ambientais e urbanos. Muitos trabalhos também se debruçam sobre as convenções culturais que dão forma às imagens, desmontando ideias preconcebidas do que sejam a realidade, o documento ou a ficção.

A curadoria é de Thyago Nogueira, coordenador da área de fotografia contemporânea do IMS, Daniele Queiroz, curadora-assistente do IMS, e Ângelo Manjabosco, pesquisador do IMS.

“Criar uma exposição com obras produzidas ao longo de dez anos é uma oportunidade para rever as utopias e distopias que atravessam a produção artística deste período tão conturbado. Reunidas, estas obras mostram a variedade, a originalidade e a potência da produção contemporânea brasileira; mostram também a lucidez dos artistas sobre o papel que desempenham na construção e reconstrução do país. O título Entre nós remete às relações de confiança e cumplicidade que servem de base a qualquer criação artística. Aponta também aos nós e às tramas que conectam estes trabalhos, feitos em contextos e tempos tão diferentes”, afirma Nogueira. “A exposição permite enxergar estas conexões artísticas, mas também os nós históricos e sociais que nos unem e prendem, sustentam e amarram”, conclui.

“Reunir trabalhos feitos ao longo dos dez anos é também uma oportunidade para discutir o papel que a imagem ocupou ao longo da década, pensando suas transformações e legados”, afirma Daniele Queiroz.

Lançada em 2013, como um desdobramento das atividades promovidas pela revista ZUM, publicada semestralmente pelo Instituto Moreira Salles, a Bolsa premia anualmente dois projetos inéditos, elaborados por artistas brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil. O objetivo é permitir que artistas e fotógrafos aprofundem sua produção visual, nas mais variadas vertentes, temas e suportes. Cada bolsa tem o valor de R$ 65 mil, destinado ao desenvolvimento do projeto e à produção do trabalho, parte dele incorporado à Coleção do IMS.


Sobre os projetos:

Avenida Brasil 24h, Aleta Valente | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2019

(Rio de Janeiro, RJ, 1986)

Aleta Valente estreia como diretora, apresentadora e personagem neste filme documentário sobre a avenida Brasil, que trata das relações entre o corpo e a cidade ao longo da via expressa mais importante da cidade do Rio de Janeiro.

A água é uma máquina do tempo, Aline Motta | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2018

(Niterói, RJ, 1974)

A carioca Aline Motta une audiovisual, fotografia e texto em um livro de artista para tratar de relações familiares e, ao mesmo tempo, coletivas. A artista apresenta seu projeto de longa duração A água é uma máquina do tempo, que contou com o apoio da Bolsa ZUM/IMS, para tratar dos apagamentos e memórias que acompanham as travessias atlânticas de pessoas e famílias negras.

Mestres de cerimônias, Bárbara Wagner | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2015

(Brasília, 1980)

Bárbara Wagner estuda manifestações populares ligadas principalmente à música e à dança. Na exposição, apresenta uma série de fotografias feitas durante as gravações de videoclipes de brega-funk no Recife e funk ostentação em São Paulo, em parceria com as produtoras Pro Rec e KL.

A anatomia da água: Livro 1 da série Corpoflor, Castiel Vitorino Brasileiro | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2021

(Vitória, ES, 1996)

Artista, escritora e psicóloga clínica, Castiel lida com conceitos da ontologia Bantu, assumindo a cura como um momento de liberdade, através de noções sobre espiritualidade e ancestralidade. Seu livro de artista, composto de fotos, textos, desenhos e outras intervenções, narra a experiência de um corpo que se desloca não mais pela necessidade de fuga ou como resposta à violência, mas impulsionado por sinais de liberdade. O projeto foi feito com a colaboração da artista maranhense Gê Viana.

A água é uma máquina do tempo (Jogo da memória), de Aline Motta. 2020. Coleção de Fotografia Contemporânea / Acervo IMS


Postais para Charles Lynch, Coletivo Garapa | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2014

(São Paulo, SP, 2008)

O coletivo é formado pelos jornalistas e artistas visuais Leo Caobelli, Paulo Fehlauer e Rodrigo Marcondes. No livro de artista Postais para Charles Lynch, o coletivo discute a representação visual do linchamento no Brasil contemporâneo, a partir de um episódio de violência acontecido no Rio de Janeiro em 2014.

Memento, Coletivo Trëma | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2015

(São Paulo, SP, 2013)

O coletivo Trëma, composto pelos fotógrafos Felipe Redondo, Gabo Morales, Leonardo Soares e Rodrigo Capote, dedicou-se à fotografia documental e editorial. Em Memento, o coletivo cria fotografias a partir das memórias de Dany Vásquez, da Colômbia, e Theresa Senga, de Angola, dois imigrantes que chegaram e vivem no Brasil.

Casulo/palco, Dias & Riedweg | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2018

Dupla criada em 1993, é formada por Maurício Dias e pelo suíço Walter Riedweg. Participou da Bienal de Veneza em 1999, Bienal de São Paulo em 2002 e Documenta 12 em Kassel, 2017. Há alguns anos desenvolvem trabalhos sobre o universo psiquiátrico. A instalação audiovisual Casulo/palco registra o cotidiano de um grupo de pacientes do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, para tornar visível o território designado à loucura e às novas formas de clausura a que esses pacientes são submetidos durante tratamento psiquiátrico.

Brasil x Argentina (Amazônia e Patagônia), Dora Longo Bahia | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2016

(São Paulo, SP, 1961)

Doutora em poéticas visuais pela ECA USP, possui pós-doutorado em filosofia pela FFLCH USP. A videoinstalação Brasil x Argentina exibe os efeitos do aquecimento global e das políticas ambientais dos dois países na Amazônia e na Patagônia. Questão recorrente no trabalho da artista, a obra põe em evidência a violência -- na forma de degeneração ambiental -- como consequência de um sistema econômico e social insustentável.

Retrato falado, Eustáquio Neves| Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2019

(Juatuba, MG, 1955)

Químico de formação e fotógrafo autodidata, Eustáquio desenvolve um trabalho marcado pela manipulação e intervenção em negativos e cópias, através do qual aborda a identidade e memória de pessoas afrodescendentes no Brasil. No projeto Retrato falado, o artista parte de descrições de parentes, de semelhanças de família e de recursos analógicos e digitais de manipulação fotográfica para reconstruir em objetos fotográficos o retrato do avô, a quem não conheceu e de quem não há, nos álbuns da família, nenhuma imagem.

Nós somos pássaros que andam, Glicéria Tupinambá (com Mariana Lacerda e Patrícia Cornils) | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2022

(1982, Terra Indígena Tupinambá de Olivença, Bahia)

Glicéria Tupinambá (Terra Indígena Tupinambá de Olivença, BA, 1982)

No filme Nós somos pássaros que andam, a artista e professora Glicéria Tupinambá, também conhecida como Célia Tupinambá, narra sua missão de recuperar materialmente e culturalmente a tradição dos mantos tupinambá. O resgate do manto foi realizado na Terra Indígena Tupinambá, no sul da Bahia, a partir de imagens de museus europeus que hoje guardam os únicos exemplares disponíveis desses mantos sagrados. O filme conta com o apoio da cineasta Mariana Lacerda e da jornalista Patrícia Cornils.

Desvio, Helena Martins-Costa | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2014

(Porto Alegre, RS, 1969)

É artista visual, bacharel em fotografia pelo Instituto de Artes da UFRGS e mestra em poéticas visuais pela ECA USP. Em seu trabalho Desvio, Helena apresenta fotografias de pessoas desconhecidas, resgatadas em sebos, feiras de antiguidades e coleções particulares para identificar tipologias e questionar os sistemas ópticos dos equipamentos fotográficos.

Eclosão de um sonho, uma fantasia, Igi Ayedun | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2022

(1990, São Paulo, SP)

Artista autodidata, diretora e fundadora da galeria/residência HOA e do MJOURNAL. Trabalha com pintura, desenho, texto, vídeo, imagens em 3D, fotografia e som. Em Eclosão de um sonho, uma fantasia, Igi apresenta imagens criadas artificialmente por programas de inteligência artificial e de interpretação de impulsos cerebrais como forma de superar o limite óptico das câmeras fotográficas ou mesmo do sistema ocular.

Zoo, João Castilho | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2013

(Belo Horizonte, MG, 1978)

É artista visual, trabalha com fotografia, vídeo e instalação. Recebeu os prêmios Funarte Marc Ferrez de Fotografia em 2010 e o Prêmio Conrado Wessel de Arte em 2008. Em Zoo, Castilho fotografa diversos animais selvagens e silvestres em ambientes domésticos, com a intenção de “discutir as questões em torno da animalidade e abrir uma porta para a investigação do que chamei de ‘mistério humano’”, afirma

Microfilme, Letícia Ramos | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2013

(Santo Antônio da Patrulha, RS, 1976)

Artista e videomaker, Letícia tem como foco de investigação artística a criação de aparatos fotográficos próprios para a captação e reconstrução de imagens e a criação de ficções com tais aparatos. No projeto Microfilme, a artista registra uma viagem de exploração a um local ermo, construindo evidências paleontológicas a partir de ampliações panorâmicas feitas com microfilmes e polaroides.

Themônias, Rafael Bqueer | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2020

(Belém, PA, 1992)

Graduada em licenciatura e bacharelado no curso de artes visuais pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Rafael Bqueer produziu quatro curtas-metragens estrelados por integrantes do coletivo drag Themônias, formado por mais de 150 pessoas que se montam e se apresentam na cena cultural de Belém. Bqueer é uma das fundadoras do coletivo.

Teatro para o artifício, da série Performances para se tornar uma fotografia, Sofia Borges | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2017

(Ribeirão Preto, SP, 1984)

Formada em artes visuais pela Universidade de São Paulo em 2008, foi uma das fotógrafas indicadas ao Foam Paul Huf Award em 2010 e 2014. Publicou, em 2016, o livro The Swamp [O pântano]. Em Teatro para o artifício, Sofia Borges fotografa uma performance artística que utiliza fotografias, máscaras, colagens, para investigar a origem do mundo e de suas representações visuais.

Na espiral do Atlântico Sul, Tatewaki Nio | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2017

(Kobe, Japão, 1971)

Formado em sociologia pela Universidade Sophia, em Tóquio, Nio estudou fotografia em São Paulo depois de viver por um ano em Salvador, onde descobriu o trabalho do antropólogo e fotógrafo francês Pierre Verger. Seu projeto Na espiral do Atlântico Sul retoma o tema do fluxo e refluxo de populações africanas entre os dois continentes, buscando traços da presença de escravizados libertos retornados do Brasil no estilo de arquitetura e promovendo reencontros imaginários entre imigrantes e refugiados nigerianos que vivem em São Paulo e suas famílias em diversas cidades da Nigéria.

Chão de estrelas, Tiago Sant’Ana | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2021

(Santo Antônio de Jesus, BA, 1990)

Tiago é artista visual, curador e doutorando em cultura e sociedade pela Universidade Federal da Bahia. Seus trabalhos tratam da representação das identidades afro-brasileiras, refletindo sobre a permanência das estruturas coloniais, o racismo estrutural e as dinâmicas que envolvem a produção da história e da memória. O filme Chão de estrelas, gravado na Chapa Diamantina, investiga estratégias de fuga e libertação no período colonial brasileiro, discutindo como essas táticas revereberam no imaginário visual brasileiro.

Vênus, Val Souza | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2020

(São Paulo, 1985)

Val Souza vive e trabalha entre Salvador e São Paulo. Trabalha com performance desde 2012. Sua prática inclui fotografia, dança, teatro, vídeo e instalação. No projeto Vênus, a artista construiu um painel com mais de mil imagens que traça relações entre as diversas formas de representação das mulheres negras - incluindo a si mesma -- da história da colonização ao Brasil contemporâneo.

Samba Shiva: as fotografias de Sambasiva Rao Patchineelam, Vijai Maia Patchineelam | Projeto contemplado na edição da Bolsa de 2016

(Niterói, RJ, 1983)

Filho de mãe baiana e pai indiano, Vijai cresceu em meio ao trabalho fotográfico do pai, geólogo que emigrou para o Brasil nos anos 1970. No livro Samba Shiva, Vijai edita o arquivo fotográfico paterno em busca de novas conexões artísticas.

Brasil x Argentina (Amazônia e Patagônia), de Dora Longo Bahia. 2017. Coleção de Fotografia Contemporânea / Acervo IMS

SERVIÇO

Entre nós: dez anos da Bolsa Zum/IMS

Abertura: 1º de abril de 2023

Visitação: até 30 de julho

Local: Pivô

Av. Ipiranga, 200, loja 54

Seg. a Sáb., das 11h às 19h

Domingo, das 12h às 18h

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