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Banda deu a volta por cima com letras conceituais, som intenso e com referências próprias
O Green Day equilibrou o seu eterno espírito de punk jovem com a maturidade da vida adulta para abordar temas contemporâneos da sociedade em seu mais novo álbum, "Saviors", lançado no dia 19 de janeiro. Em seu melhor trabalho dos últimos, 20 anos, a banda parece ter encontrado o ponto perfeito que une a nostalgia de "Dookie" (1994) e "American Idiot" (2004), sem deixar de lado suas referências.
O acerto no novo trabalho veio com uma sonoridade familiar, passando por AC/DC, discos do início da carreira e até mesmo por "American Idiot" e "21st Century Breakdown", fases tidas por muitos como a virada de chave da banda. Além disso, vocais mais agressivos e raivosos e instrumentais mais intensos marcam o novo álbum do Green Day.
Em "Saviors", o grupo da Califórnia conseguiu dar a volta por cima após anos perdido em um estilo pop que não condizia com sua história, muito menos com a sonoridade esperada pelos fãs acostumados com o punk alegre, irreverente, crítico e conceitual que permeou por grande parte dos 38 nos de carreira da banda.
Tendo em vista o ano eleitoral nos Estados Unidos, o Green Day não poupou de sua criatividade e visão de mundo para trazer a política como mote principal. As questões sociais e a forma passiva como a população e a mídia aceitam ou até mesmo contribuem para retrocessos e negacionismos são abordados como sinal de alerta. Firma nas mensagens, a banda teve como principal alvo os ex-presidente Donald Trump, que tentará novamente chegar ao poder em 2024.
Já na primeira faixa do disco, Billie Joe (vocal e guitarra), Mike Dirnt (baixo) e Tré Cool (bateria) deixam bem claro a que vieram. "The American Dream is Killing Me" é uma porrada no sonho americano e escancara a forma como ele ilude as pessoas e aumenta a desigualdade. "Não queremos massas aglomeradas / TikTok e impostos / Sob o viaduto / Dormindo em cacos de vidro", manda o recado a banda em um punk que remete às suas melhores fases.
A segunda música, "Look Ma, No Brains!", é um rock direto com pouco mais de 2 minutos, mas que é tempo suficiente para o Green Day trazer de volta sua rebeldia jovem. Uma canção que se encaixaria perfeitamente nos primeiros álbuns da banda.
"Bobby Sox" segue na linha de abordagem dos desejos da juventude. Inicialmente calma, a música saí do tom de conversa sobre os anseios de um relacionamento para um grito de suplica pela concretização de uma vida amorosa no refrão, onde Billie Joe canta de maneira feroz e em tom poucas vezes visto. A canção celebra a diversidade e todas as formas de amor. "Você quer ser minha namorada?" e "Você quer ser meu namorado?" se alternam no decorrer da letra. Segundo Billie, a faixa seria para sua esposa, mas optou pela mudança depois de pronta para, desta forma, "a música torna-se uma espécie de hit universal”.
A agitação punk segue na vingativa "One Eyed Bastard", que certamente fará as arenas tremerem na próxima turnê do grupo, enquanto que "Dilemma" é forte candidata a melhor canção do disco. O tom convidativo no início e explosivo no refrão, traz novamente um Green Day reflexivo ao abordar os problemas da dependência química, como lembrado aqui.
A agitação punk segue com a acelerada "1981", uma referência direta ao primeiro dos 8 anos do governo do presidente Ronald Reagan (1981 - 1089). "Deus abençoe o fim dos tempos... Ela vai balançar a cabeça como em 1981", alerta a banda sobre os rumos que os Estados Unidos podem tomar a depender do resultado da eleição presidencial de 2024.
A balada "Goodnight Adeline" marca a mudança de sonoridade do álbum, sem deixar temas sentimentais de lado. "Coma City" volta a subir o tom das mensagens ao abordar os problemas de uma cidade em coma. Seu ritmo e letra caberiam perfeitamente no disco "American Idiot".
Do punk para um rock clássico, a ótima e dançante "Corvette Summer, traz influências de AC/DC no riff de introdução e ao longo da composição. O Green Day calmo e poético segue em "Suzie Chapstick", cuja letra trata da expectativa de viver um romance que não aconteceu. "Às vezes, tudo simplesmente se desfaz / Pedacinhos quebrados de um coração partido / Nem mesmo as drogas parecem funcionar".
A política, campo que o Green Day domina com facilidade, volta a ser tema em "Strange Days Are Here to Stay". De forma calma, Billie Joe alerta que "Dias estranhos estão aqui para ficar / Desde que Bowie morreu". Novamente uma mensagem clara sobre as políticas de Donald Trump, eleito em 2016, ano da morte de David Bowie.
"Living in the '20s" é o último hit do álbum com a rebeldia do punk rock. Já de cara a letra faz referência ao atentado em um supermercado do Colorado em 2021 para abordar novamente as questões sociais qie envolvem o país. "Outro tiroteio em um supermercado / Gastei meu dinheiro em um alvo sangrento e frágil / Brincando com fósforos e acendendo Colorado". A cumplicidade na forma como a grande imprensa relata os fatos também foi alvo de Billie Joe e companhia. "Bebo minha mídia e a transformo em vômito".
O disco caminha para o final novamente em tom menos agressivo com "Father to a Son". Em uma ode à família, Billie Joe fala dos exemplos que quer, como pai, deixar para seus filhos. Certamente, a canção fará dobradinha com "Wake Me Up When September Ends" na próxima turnê do grupo, sendo o momento de acender as lanternas dos celulares e os isqueiros.
Penúltima música e faixa título do álbum, "Saviors" traz um clima mais alegre e festivo à espera dos salvadores de uma vida onde tudo acontece de maneira rápida. "Se apaixone e entre na fila / Estamos todos passando como um eco viral pra passar o tempo". A calma "Fancy Sauce" fecha o trabalho em ritmo de fim de balada, mas ainda com mensagem sobre os tempos atuais e o desgaste mental causado por ele. "Algum lugar onde eu possa descansar minha cabeça / E aceitar as críticas". A forma como a mídia da destaque também volta a ser alvo, "Assistir ao noticiário da noite / Porque é meu desenho animado favorito".
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